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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Literatura em Libras Estimula Inclusão e Desenvolvimento de Crianças Surdas

(Copiado do Blog Salvem as nossas crianças)


Histórias impressas e vídeos em Libras instigam memória e vocabulário.
"Realfabetização" dos pais é importante para a criança se sentir acolhida.


Com quatro anos, Fabrizzio Castro já sabe ler, escrever e chama a atenção como contador de histórias. A mãe dele, Fernanda Soares, credita o desenvolvimento ao intenso contato da criança com literatura. O menino, que é surdo desde o nascimento, é apaixonado por livros e DVDs infantis e chega a pedir os artigos como presente em datas comemorativas ao invés de brinquedos.

Histórias em formato impresso ou digital estimulam o vocabulário e o ganho de habilidades para crianças surdas. As narrativas traduzidas ou adaptadas para a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) são ainda mais indicadas, segundo especialistas. Para a professora e coordenadora do Núcleo de Libras da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Elideia Bernadino, o contato com a Libras deve ser incentivado desde cedo. “O quanto antes [a criança] tiver contato com a Libras, melhor pra ela, porque vai ajudar no desenvolvimento cognitivo e ela vai adquirir uma língua cedo. O aprendizado da Libras não vai interferir no aprendizado do português”, afirma.

Ainda segundo a pesquisadora, as expressões corporais e faciais do intérprete que conta uma história transmitem sentimentos que ajudam na integração e no desenvolvimento das crianças da comunidade surda. “Vários surdos falam comigo: ‘português não tem emoção como a Libras’. O texto escrito é uma coisa fria para uma pessoa que não domina a língua. Na Libras, a criança sente a emoção narrada”, disse.

Fabrizzio, que é filho de surdos, teve contato com a Libras desde o nascimento. “Desde os primeiros meses, ele já é sinalizado. Ele falava ‘mamãe’ e ‘papai’ usando sinais. Hoje, ele está começando a aprender o português”, relatou a avó do menino, Cláudia Soares.

Mãe e avó de surdos, Cláudia acompanhou a evolução da literatura deste segmento nas duas últimas décadas. “Antes não se usava Libras, era tudo oralizado”, disse. Cláudia conta que a filha dela, Fernanda Soares, sofreu muito quando era criança. “Eu lembro que eu tinha um livro da Branca de Neve. Eu mostrava, contava do meu jeito em português e ela não entendia nada. Ela era oralizada, mas não sabia nem Libras, nem português. Ela chorava porque não compreendia e eu queria que a menina falasse, né”, disse.

Segundo Cláudia, antigamente, a surdez era vista como doença e os surdos não eram acolhidos como hoje. Ela relatou que tinha 18 anos quando descobriu que a filha Fernanda, com cinco meses, era surda, mas não aceitava. “Eu teimava pra ela falar ‘copo’, mas ela não entendia. Era difícil construir uma história, uma frase”, disse. “Quando ela dominou a Libras, aos 16 anos, passou a dar significado para as coisas”, completou. “Às vezes ela me perguntava ‘o que é isto?’ e eu não conseguia passar pra ela. Com o Fabrizzio, o retorno é imediato. Tenho várias formas para mostrar para ele. A comunicação é 100%. Com a Fernanda, não chegava aos 50%”, conta.

Para Cláudia, o reconhecimento da Libras como língua foi importante tanto para o avanço da literatura voltada para surdos, quanto para o desenvolvimento de outras áreas do conhecimento e pesquisas. Segundo informações da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (Feneis), atualmente, cerca de 3% da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência auditiva. Em 2002, o governo federal reconheceu a Libras como a língua oficial a ser utilizada pelos surdos, por meio da Lei 10.436.

Para a pesquisadora da UFMG Elidea Bernardino, é essencial que a família da criança surda aprenda Libras para que ela se sinta incluída. “A maioria dos surdos têm pais ouvintes, 90%, 95%. Um número muito pequeno de crianças surdas tem contato com surdos no início. Assim que uma criança surda nasce, os familiares ouvintes têm que ser ‘realfabetizados’”, diz.

Neste sentido, também é importante que os pais e familiares criem estratégias para incentivar as crianças a ler e se integrar. “Conheço um pai que, para criar o gosto pela leitura, começava a ler pra ele [para o filho] e, quando a história chegava ao clímax, ele fechava o livro, entregava para o menino e falava: ‘agora, você vai ler’. Aí, ele [a criança] ia começando a ler a história toda, entendendo melhor o português, ia curioso”, contou.

Segundo Elidea, narrativas elaboradas para as crianças surdas também devem ter elementos do português para que os pais compreendam e transmitam a mensagem aos filhos. “A história geralmente é sinalizada e tem legendas para os familiares entenderem o que é falado. O objetivo é chegar ao surdo pela sinalização e não pela legenda. Por isto, até a posição da leitura é diferente, pois a criança tem que ver o rosto de quem conta”, reflete a pesquisadora.

Para ela, histórias também são importantes para o desenvolvimento de habilidades como a memória e a noção de princípio, meio e fim, essencial para a compreensão de passado, presente e futuro. Cláudia e Fernanda, avó e mãe de Fabrízzio, investem em jogos e brincadeiras. ”A memória do surdo é visual. Um quebra-cabeça com 80 peças ele [Fabrizzio] monta em segundos. No jogo da memória, então, ele ganha de qualquer um”, diz Cláudia.

Mercado

No Brasil, o mercado literário tem crescido para atender a demanda da comunidade surda, especialmente das crianças, mas as iniciativas ainda não atendem a todos, segundo especialistas. “Me parece que ações governamentais são muito tímidas em relação a isto. Vejo que há muito barulho e pouca luz”, disse Astomiro Romais, diretor da Editora da Ulbra.

Geralmente, as narrativas publicadas por editoras são adequadas para o universo da comunidade surda. Temas como a interação entre surdos e ouvintes, a maneira como o surdo enxerga o mundo e a relação dos parentes ouvintes com o único surdo da família são recorrentes na literatura do gênero. A adaptação de livros clássicos também aparece com frequência nas prateleiras das livrarias e das videolocadoras.



Fonte: G1/MG

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