
A cartilha “Psiu, repara aí!”, sugerida ao Ministério da Educação (MEC) pela doutoranda em psicologia Ana Carina Stelko-Pereira, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pode ser aplicada até o fim do ano a alunos da 6ª à 9ª séries do ensino fundamental, de acordo com ela, durante apresentação feita nesta segunda-feira (11) na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade de Goiás (UFG), em Goiânia.
O material já passou por testes com 70 estudantes (35 de cada período) e 95% aprovaram o conteúdo, que inclui caça-palavras, desenhos e histórias sobre bullying.
“Entre as respostas a um formulário anônimo, os participantes destacaram que o material é importante porque ensina como agir caso eles sejam vítimas de agressão. Outros escreveram que a ideia é mostrar que brigas não levam a nada”, disse Ana Carina.
Como parte de sua tese de doutorado “Violência nota zero”, que deve ser defendida no próximo ano, a pesquisadora avaliou 400 alunos de duas escolas estaduais de São Carlos. Ela imaginava que, em resposta a seu questionário de 26 questões, de 10% a 15% responderiam que são vítimas de bullying. Mas o resultado surpreendeu:
“Foram 70% os que disseram que sofriam agressão física pelo menos uma vez a cada seis meses e que eram xingados sete vezes ou mais por semana”, contou.
O conflito entre as crianças no ambiente escolar revelado pelo estudo evidenciou um problema ainda maior: a violência doméstica. “Entre as meninas, 14% presenciavam agressões ou eram agredidas em casa, contra 7,5% dos meninos. Em 85% dos casos, as mães eram as responsáveis, contra 60% dos pais”, afirmou Ana Carina.
A probabilidade de um aluno ser alvo ou autor de bullying triplica se houver agressão por parte da mãe e chega a quadruplicar se o responsável for o pai, indicou a pesquisa. Os efeitos a curto prazo podem ser dor de cabeça, dificuldade para dormir, cansaço, falta de ânimo, perda da vontade de ir à escola e uso de drogas.
A longo prazo, segundo a psicóloga, aumentam as chances de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e dificuldades comportamentais. “Um trabalho finlandês analisou recentemente crianças que sofriam bullying aos 8 anos e depois aos 16. Entre os meninos, todos continuaram vítimas e, entre as meninas, um quarto se tornou responsável pela agressão”, destacou Ana Carina.
O mais importante, de acordo com ela, não é buscar culpados, mas parcerias. É preciso trabalhar com a família, educadores, merendeiras, porteiros e todos da escola, amigos, profissionais da saúde (como pediatras) e a comunidade.
Fonte: g1.com.brCom colaboração do Portal Timom FM
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