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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Crianças são dopadas em troca de benefício

Mães colocam em risco a vida dos próprios filhos ao entrarem em esquema fraudulento de previdência

Maurício Gonçalves/Gazeta de Alagoas

Durante quatro dos sete anos de sua vida, a menina tomou remédio controlado três vezes por dia. Enquanto o juízo da filha zanza, a mãe recebe o Benefício da Prestação Continuada (BPC) de um salário mínimo por mês. Nada grave se não fosse uma fraude. É um golpe que acerta em cheio pobres cabeças infantis. A dona de casa está orientada a fingir que a criança é “doida” para ganhar o dinheiro da Previdência Social, garantido pela Lei Orgânica de Assistência Social (Loas).

Tal como ela, centenas de mães na região da orla lagunar são compradas por um esquema que envolve médicos, psicólogos, assistentes sociais, postos de saúde, clínicas infantis, entidades filantrópicas, advogados, atravessadores e funcionários do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O objetivo: fraudar a Previdência. A contraindicação: simular o retardo mental e outros transtornos. A reação adversa: deixar as crianças doentes, de fato.

A falcatrua existe há muitos anos e chama a atenção de profissionais sérios que também atuam em postos de saúde e escolas da área. Todos ficam indignados, mas poucos têm coragem de denunciar. Alguns reuniram informações e documentos que podem comprovar o golpe. Muita coisa foi encaminhada ao Conselho Tutelar do Vergel.

Escolas sob pressão

A mente “mente”, mas às vezes não engana. É o caso de crianças que recebem o BPC e têm um bom desempenho na escola. O médico aponta retardo mental, distúrbios de conduta, epilepsia e transtorno hipercinético, mas o aluno acompanha as aulas, tira notas boas e se relaciona bem com os colegas. O diagnóstico é subjetivo e suspeito. Chefe da Perícia Médica do INSS, Germana Moraes diz que constantemente se depara com inúmeros atestados falsos, assinados por médicos coniventes com o crime.

Durante duas semanas, a Gazeta seguiu os rastros do conluio que “enlouquece” guris e gurias sadios. A reportagem teve acesso aos nomes de três médicos, duas assistentes sociais, duas psicólogas e dois intermediários acusados pelo golpe, mas decidiu não publicá-los, por enquanto, porque o conselho ainda elabora provas contra eles.

Nas entrevistas com professoras, diretores de escolas, funcionários de postos de saúde e, principalmente, mães e filhos, fica evidente que estas crianças sofrem com a farsa e podem estar tomando drogas pesadas sem necessidade. Pior ainda é a intermediação de pessoas que lucram com o golpe e passam propinas para os profissionais de saúde e serviço social que oficializam a “doença mental”.

Mães vão ao extremo por dinheiro

A educadora de uma escola está assustada com a grande quantidade de alunos que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e não deveriam tomar medicamentos. “A gente percebe que as crianças estão sendo incapacitadas por interesse. Estava fazendo um relatório de uma menina para encaminhar à psicóloga e ela começou a chegar assanhada, com a roupa suja, um jeito estranho, mudando totalmente o comportamento”, relata.

Ao perguntar porque ela estava daquele jeito, tão diferente, malcuidada, a sincera inocência da criança falou mais alto na reposta: “É porque minha mãe disse que eu tenho de parecer doida”, cochichou para a pedagoga. Neste caso, a família já recebia o BPC há anos, dela e de um irmão. Por solicitação do INSS, a escola elabora um relatório de aprendizagem, que avalia concentração, nível cognitivo e socioafetivo.

Vila Brejal é recordista em doença

A Vila Brejal é uma das áreas de maior “incidência” de crianças com problemas psiquiátricos em Maceió. Resta saber se elas são mesmo vítimas de doenças mentais ou de malandros cerebrais. Quem conhece o golpe não fala nada, principalmente para a imprensa. A equipe da Gazeta só conseguiu obter informações no local porque se apresentou como pesquisadores da Universidade e chegou ao local com um carro descaracterizado.

Sem saber que se tratava de uma reportagem, a diretora do Posto de Saúde da Família da Brejal, Rejane Lemos, confirma que muitas mães já conseguiram o benefício com atestados médicos. “Tem uma mulher que já aposentou dois filhos e agora trabalha como intermediária e leva as outras mães para um advogado que ela conhece”.

Sob o pretexto de fazer uma pesquisa, conseguimos o apoio de uma agente de saúde, que nos levou a três mães que dão medicamento controlado para os filhos. Não cabe à nossa reportagem concluir se elas conseguiram o benefício ilegalmente ou não. A intenção é apenas mostrar o exemplo e sugerir que as “enfermidades” dos filhos delas sejam melhor investigadas. Só outro médico poderia dizer se o diagnóstico que elas receberam é errado.

Com colaboração do Blog Infância em Pauta

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